O dia foi dominado por um fio comum: a política mundial habituou-se a viver em modo guerra longa. De munições que enferrujam a mísseis que atravessam fronteiras, a discussão mostra Estados a esticar capacidades, líderes a disputar legitimidade e sociedades a gerir riscos tão díspares como ursos famintos e voos enigmáticos. O consenso fácil não sobrevive quando a logística fala mais alto do que os slogans.
Guerra de atrito: indústria, mão de obra e alcance
A viragem para a guerra de desgaste ficou crua nas conversas. Houve aplauso e ironia perante o novo míssil de longo alcance “Long Neptune” da Ucrânia, contraponto direto à revelação de escassez e obsolescência das munições da Coreia do Norte para Moscovo. Ao mesmo tempo, a reafirmação, em Berlim, de que os chefes de defesa europeus estão com a Ucrânia “para o que der e vier” cristalizou a ideia de compromisso aberto no tempo, com a conta a pagar em sanções, drones e eletrões.
"“No entanto, cerca de metade da munição enviada no mês passado era tão antiga que teve de ir para fábricas russas para recondicionamento.” Tranquilo, deixem a ferrugem no estojo. Zero hipótese de algo correr mal ao disparar..." - u/008Zulu (828 points)
"Acontecem coisas engraçadas quando se lança uma invasão de três dias contra um país e se espera que ele não responda em defesa..." - u/shooshkebab (683 points)
Do lado russo, escassez resolve-se com importação de gente: o plano para contratar 12.000 trabalhadores norte-coreanos para fábricas de drones denuncia a fusão entre economia de guerra e autoritarismo laboral. E a Ucrânia confronta o reverso demográfico: o apelo de Friedrich Merz para travar a saída de jovens ucranianos para a Alemanha expõe a tensão entre sobrevivência individual e mobilização nacional. A guerra de atrito mede-se em quilómetros de alcance e em horas de turno.
Liderança e narrativa: legitimidade à prova
Num tabuleiro saturado de propaganda, a legitimidade também se constrói com transparência. Daí o destaque para a defesa pública de Andrii Yermak de que Zelensky não está envolvido em corrupção, reivindicando investigações livres como selo de confiança institucional. A comunidade, porém, lembra que a maturidade democrática não se mede por ausência de casos, mas pela capacidade de os extirpar.
"É sempre importante lembrar que ‘corrupção encontrada e extirpada’ significa que sim, havia corrupção, mas também que ela não é tolerada. Corrupção haverá sempre; o essencial é como se lida com ela." - u/Sayakai (51 points)
Noutra latitude, o apelo de Nicolás Maduro a Donald Trump para evitar uma ‘guerra eterna’ ao estilo do Afeganistão mostra o cinismo do espelho: um líder cercado por acusações de repressão tenta apropriar-se do léxico pacifista para navegar uma crise com tropas norte-americanas à vista. A batalha das narrativas é, também ela, uma batalha de desgaste.
Estado sob pressão: ursos, fronteiras e tarifas
Quando o extraordinário vira rotina, os governos respondem com músculo institucional. É o caso da segurança interna no Japão, onde a decisão de mobilizar reformados da polícia e militares para abater ursos traduz um Estado disposto a usar todas as alavancas para proteger comunidades diante de ataques inéditos. A normalização do excecional é a nova gramática da gestão do risco.
Fronteiras e regras também cederam ao inesperado na África Austral, com a investigação sul-africana ao ‘mistério’ do avião com 153 palestinianos a pôr em confronto compaixão, legalidade e geopolítica. E, enquanto os céus se enchem de drones e voos charter sem carimbos óbvios, a economia tenta desanuviar noutra frente: o acordo comercial entre Estados Unidos e Suíça para reduzir tarifas para 15% é o lembrete discreto de que, mesmo em tempo de guerra longa, há quem procure atalhos para a previsibilidade.