Uma semana que prometia ser sobre gadgets transformou-se num raio‑X da engenharia do poder: quem controla a interface controla a narrativa, e quem detém a narrativa dobra o mercado. Entre decisões políticas travestidas de “comunicação oficial”, IA a arbitrar temas sensíveis e assinaturas a desagregar, a tecnologia deixou de ser o palco e tornou-se o enredo.
O traço comum? A instrumentalização da infraestrutura: do site oficial da Presidência com a divulgação de uma lista de “inimigos” ao uso de páginas institucionais para culpar a oposição por um encerramento, passando por alterações forçadas em respostas automáticas de um departamento que transformam burocracia em propaganda. Isto não é “mensagem”, é reconfiguração do backoffice público para guerrear opinião.
"Se for verdade, é um precedente perigoso. Motores de busca não devem filtrar consultas politicamente inconvenientes; isso mina a confiança em todo o produto." - u/Wealist (6823 points)
A mesma lógica espraia-se pelo ecossistema privado: da intenção explícita de transformar uma aplicação de vídeos curtos em máquina de propaganda à normalização de vídeos gerados por IA para demonizar adversários, culminando em bloqueios seletivos em respostas de IA sobre a acuidade mental do chefe de Estado. Não é erro de algoritmo, é preferência codificada — e o resultado é previsível: confiança em erosão acelerada.
O cancelamento como plebiscito de bolso
Chamar “churn” ao gesto é reduzir política a contabilidade. Quando a comunidade reage à perda súbita de 1,7 milhões de assinaturas num gigante do entretenimento após uma suspensão polémica, está a indicar às plataformas que o botão “cancelar” é arma e escudo: disciplina executivos, expõe incoerências e limita o espaço para aumentos oportunistas.
"Caramba, isso é mais do que eu imaginava; faz sentido que tenha resultado." - u/EmperorKira (16719 points)
O mesmo pulso atinge o entretenimento interativo: o apelo a boicote de um serviço de jogos por subscrição após um aumento de 50% mostra o teto psicológico do “tudo é subscrição”. Quando a relação valor‑preço quebra, a massa crítica desliga o débito direto — e, com ele, o sonho das receitas infinitas.
Regras para uns, riscos para todos
Privacidade não é luxo de cargo; é linha de base democrática. Ainda assim, o bloqueio de um pacote de salvaguardas por um senador do Texas manteve a assimetria: quem legisla preserva proteção reforçada, o cidadão fica exposto ao apetite dos corretores de dados. É a política a desenhar assimetrias tecnológicas ao gosto do poder, não ao serviço do público.
"A primeira frase é péssima. Corrijo: um senador travou um projeto que daria às pessoas comuns as mesmas proteções de privacidade de dados que os legisladores federais e outros titulares de cargos públicos já têm." - u/Bill_Salmons (3785 points)
Ao mesmo tempo, o zelo político ameaça a memória material do século XX: a tentativa de relocalização só viável com desmontagem de um vaivém histórico não é logística; é iconoclastia orçamental com etiqueta de museu. Quando o património vira troféu de reconciliação orçamental, a ciência transforma‑se em adereço — e perde‑se mais do que azulejos térmicos.